Por Yula Rocha

 

Rio de Janeiro, 20 de outubro de 2025 – O coral Uma Só Voz de moradores em situação de rua deu o tom de uma tarde emocionante em homenagem à trajetória de mais de trinta anos de  Paul Heritage dedicados a projetos socio-culturais que trouxeram à luz temas e pessoas normalmente invisibilizadas no Brasil e no mundo. Em reconhecimento pela sua história, o diretor da PPP recebeu a mais alta homenagem do município do Rio de Janeiro – a medalha Pedro Ernesto – na Câmara de Vereadores lotada de parceiros e amigos.

Fotos de Renan Olaz – CMRJ

Antes da solenidade formal, conduzida pelo vereador Flávio Pato, Math de Araujo, autor do livro Capitães de Água e um dos artistas da peça Becos, produzida pela PPP, declamou um de seus primeiros poemas em homenagem a Paul. O violonista e compositor Johnathan Panta, também artista da Maré e parceiro da PPP, acompanhou o marido de Paul, músico e cantor Rodrigo Faria, que cantou uma canção de Caetano Veloso – uma declaração de amor a Paul e à cidade do Rio de Janeiro.  

Na tribuna, a amiga de longa data e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania e ex-diretora do sistema penitenciário do Rio de Janeiro, socióloga Julita Lemgruber, lembrou o dia em que o jovem Paul bateu à sua porta com uma “ideia maluca” de fazer oficinas de teatro para os detentos que mal tinham garantido seus direitos básicos na prisão. Seu intuito era provar que “a arte pode libertar porque até as pessoas atrás das grades sonham.” Deu certo e todos se apaixonaram por aquele inglês gentil e sonhador.

E os sonhos por uma sociedade mais justa permearam a vida de Paul Heritage no Rio de Janeiro, cidade que o acolhe desde a década de 1990.  Couberam aos amigos que convidados para compor a tribuna,  resgatar memórias dessa caminhada repleta de parcerias potentes e transformadoras. Além de Julita Lemgruber, falaram o arquiteto e diretor artístico Gringo Cardia e o ex-secretário de cultura do Rio, cineasta Marcus Faustini, que se referiu a Paul como um dos maiores personagens da história da cultura brasileira. Eliana Sousa, diretora da Redes da Maré, emocionada, falou que a homenagem é pouco para dizer tudo o que Paul representa para o Brasil. Eliana lembrou da sua ida a Londres organizada pela PPP onde participou da primeira troca internacional sobre segurança pública com a polícia metropolitana. Por video, o artista associado da PPP, cineasta indígena Takumã Kuikuro, mandou uma mensagem carinhosa agradecendo a tantas portas abertas ao povo Kuikuro do Alto Xingu.

Além da medalha Pedro Ernesto, Paul Heritage recebeu este ano da coroa britânica o título de Membro do Império Britânico (MBE) justamente pela sua contribuição nas relações culturais entre Reino Unido e Brasil, o mesmo reconhecimento dado a ele em 2004, quando foi condecorado pela Ordem Cavaleiro Rio Branco.

A ponte cultural construída por Paul entre os dois países foi enfatizada pelo cônsul-geral britânico no Rio, Anjum Noorani, representando o governo do Reino Unido na cerimônia. “Paul não é apenas um professor de Drama da Queen Mary University of London, ele é um visionário, um incansável defensor do poder transformador das artes”, disse Anjum. 

Durante sua carreira como pesquisador e produtor cultural, Paul Heritage trouxe o teatro de Shakespeare da Inglaterra para o Brasil e levou do Rio para Londres grupos como AfroReggae, entre tantos outros expoentes da cultura brasileira. Mas como lembrou Anjum,  foi nas favelas e territórios indígenas que Paul encontrou seu verdadeiro palco, onde viu possibilidade de cura e empoderamento e deu voz e dignidade aos invisibilizados e esquecidos.

“Cônsuls britânicos vão e vêm para o Rio de Janeiro, mas quem sempre fica é o Paul Heritage”, concluiu Anjum.

Assista a cerimonia neste link