Estratégias Culturais em Manguinhos
Mapeamento de iniciativas culturais em um conjunto de favelas no Rio de Janeiro com olhar voltado à saúde mental dos moradores

O Projeto
Esse projeto explora a relação entre iniciativas socioculturais e o bem estar de moradores de Manguinhos, no Rio de Janeiro. 36.000 pessoas vivem nesse conjunto de favelas cariocas que tem uma cena cultural vibrante com vários projetos, coletivos e experiencias criativas locais.
People’s Palace Projects, Fiocruz, FGV, e pesquisadores da favela de Manguinhos identificaram cerca de 30 iniciativas criativas diversas: coletivos de batalha de slam, escolas de dança e línguas, jornalismo local e oficinas ambientais como o conhecido projeto Teto Verde Favela
Fase 1
Durante a primeira fase do estudo, promovemos encontros com produtores culturais locais que falaram sobre seus projetos e a relação entre experiencias socioculturais e de bem estar dos participantes das iniciativas. Na conversa eles apontaram estratégias de políticas públicas para saúde mental dos moradores.
O mapeamento dessas iniciativas foi catalogado digitalmente para dar visibilidade às iniciativas e fortalecer as discussões sobre arte e saúde mental no território.
Assista as Rodas de Conversa e Leia o Catálogo:
Fase 2
Com o título “Estratégias culturais em Manguinhos: um estudo de trajetórias de vida e redes sociais locais como ferramentas de promoção da saúde mental” (Cultural Strategies in Manguinhos: a study of life trajectories and local social networks as tools for promoting mental health) a segunda fase da pesquisa buscou expandir o alcance e aprofundar o debate do Catálogo “Estratégias culturais em Manguinhos” estreitando os laços com a comunidade. Por meio de entrevistas em história oral que deram base ao documentário curta metragem “Coisa de Favela”, esta fase buscou registrar modos de fazer, trajetórias e conhecimento dos produtores culturais de Manguinhos e compreender como estes agentes da cena cultural entendem e constroem uma relação entre cultura e saúde mental na favela.
Esta etapa do projeto propôs explorar a forma como experiências culturais produzidas localmente, que são histórica e socialmente aprendidas e ensinadas em Manguinhos, estão ligadas à promoção da saúde mental e produção de vida dos moradores. Nesse sentido, este projeto teve como objetivo explorar como as práticas culturais locais podem ser entendidas como estratégias para cuidar da saúde mental de populações vulnerabilizadas, ao mesmo tempo em que incentivam sua emancipação, autonomia e sustentabilidade.
A partir do diálogo com produtores culturais e da atuação de profissionais da cultura de Manguinhos na construção da pesquisa e do documentário, a segunda fase do projeto foi realizada em co-produção com a comunidade.
Documentário “Coisa de Favela”
Qual o papel da cultura na produção de vida e saúde mental em territórios de favela?
É a partir dessa pergunta que o filme “coisa de Favela” convida seis produtores culturais participantes de diferentes coletivos e organizações do conjunto de favelas de Manguinhos – Ana Paula Oliveira (Mães de Manguinhos), Celestre Estrela (Sarau de Manguinhos e G.R.E.S Unidos de Manguinhos), Iguinho Imperador (imperadores da Dança), Luis Cassiano Silva (Teto Verde Favela), Cátia Nascimento (experimentalismo Brabo) e Ellen Grace (contadora de histórias e Espaço Casa Viva / Rede CCAP) – a falarem sobre suas vivências com a arte e cultura no território.

Ao abordar a relação entre saúde mental e cultura, o filme trata de diferentes temas, como: racismo, violência, valorização da cultura periférica, meio ambiente e a arte como instrumento para reivindicação de direitos. Através de entrevistas e performances, o filme passa por diferentes expressões artísticas – poesia, palhaçaria, dança, esporte, slam, carnaval, etc – para mostrar que cultura é coisa de favela. A produção foi dirigida pela pesquisadora, historiadora da arte e produtora cultural Franciele Campos, também moradora e articuladora social de Manguinhos.
Além de receber consultoria de produtores culturais de Manguinhos, o filme teve a trilha sonora produzida pelo Guaiamum Áudio e Estúdio Escola Casa VIVA, com direção musical de Cris Ariel e composição de alunos do Espaço Casa viva/Rede CCAP.
Resultados
O catálogo, as rodas de conversa e as entrevistas realizadas para a produção documentário curta metragem “Coisa de Favela” mostram que as ações e estratégias culturais e artísticas desenvolvidas por produtores de Manguinhos constroem e aprimoram redes de cultura, cuidado e promoção da saúde mental que permitem aos moradores da região enfrentar as desigualdades, múltiplas violências e violações de direitos.
Além disso, as iniciativas culturais constituem lugares de memória por sua importância para o desenvolvimento e conservação de tradições locais, conexões comunitárias e expressões culturais que proporcionam um espaço para discutir questões variadas como violência, crise climática, gênero, racismo, sexualidade etc., bem como para cultivar redes de solidariedade e apoio mútuo. Nesse sentido, o registro audiovisual dessas práticas culturais surge do entendimento dessas ações como patrimônio imaterial.
O mapeamento e o diálogo com pesquisadores e produtores culturais locais indicam que ações culturais protagonizadas pelos moradores de favela são alternativas para a promoção de vida e saúde mental nestes territórios.
Desdobramentos
Ao longo das duas fases de realização, o projeto foi apresentado para parceiros nacionais e internacionais, o que teve como resultado a continuação das ações através da adaptação da metodologia de mapeamento de estratégias culturais e sua aplicação em outros territórios e contextos através de novos projetos de pesquisa.
Através de uma parceria entre People’s Palace Projects do Brasil e o Coletivo de Pesquisa Construindo Juntos, com apoio da FGV e financiamento da Fiocruz, através do Chamada Pública de 2024 para Apoio a Ações de Saúde Integral nas Favelas do Rio de Janeiro, a pesquisa “Redes de cultura e Cuidado: promovendo saúde mental na Cidade de Deus” está mapeando e catalogando iniciativas culturais deste território juntamente com pesquisadores locais.
A metodologia desenvolvida para esta pesquisa também foi utilizada pelo NIHR Global Health Research Centre: community management of non-communicable diseases in Latin America, o Latam Centre, para o mapeamento de iniciativas culturais em três países: Colômbia (Guaviare), Guatemala (Alta Verapaz) e Bolívia (San José de Chiquitos).