Kamukuwaká RV: Visitando a Gruta Sagrada do Xingu

Realidade virtual desenvolvida com povo Wauja, do Xingu, conecta a comunidade ao seu local mais sagrado.

Foto: Piratá Waura

Projeto em linhas gerais

O artista associado da People’s Palace Projects, Nathaniel Mann, em colaboração com a Associação Indígena Tulukai (AIT), desenvolveu uma interface inovadora de realidade virtual que recria a gruta sagrada do Kamukuwaká.

Essa tecnologia permite que as diferentes gerações dos povos indígenas revisitem a gruta, conhecida como o “livro de aprendizado” do povo Wauja – um sítio arqueológico que preserva suas crenças, costumes e história.

Em 2018, essa antiga gruta, tombada pelo IPHAN e considerada o local histórico e espiritual mais importante para os Wauja e outros 15 povos indígenas do território do Xingu, foi vandalizada. A destruição da grura – que ficou de fora do território indígena demarcado na década de 1960 – decorria da tensão contínua entre comunidades indígenas e agricultores no estado de Mato Grosso, Brasil. (Veja a matéria da BBC News)

Aprendizado com Realidade Virtual

Graças à realidade virtual, cerca de 700 indígenas têm hoje a oportunidade de aprender sobre o conhecimento ancestral gravado nos painéis de arte rupestre do Kamukuwaká sem sair de suas aldeias.

Para tornar isso possível em uma área tão remota, quatro aldeias indígenas foram equipadas com computadores e painéis solares, garantindo conexão à internet. A experiência foi documentada nas aldeias Wauja pelo professor e cineasta Piratá Waura, que planeja compartilhar essa tecnologia com os outros 15 povos indígenas do Xingu no futuro.

Do Xingu para Copenhague e Paris

A experiência de realidade virtual do Kamukuwaká e uma instalação de realidade mista foram selecionadas pelo simpósio CPH:Lab Inter como parte do festival de cinema CPH: DOX film, realizado em abril de 2022 na Dinamarca. Nove projetos imersivos, incluindo Kamukuwaká, exploraram o tema das “Transformações”.

O protótipo também foi exibido na sede da UNESCO, em Paris, em dezembro de 2022, durante o evento oficial de lançamento da Década Internacional das Línguas Indígenas. Líderes indígenas, investidores e diplomatas da ONU puderam experimentar uma prévia da RV Kamukuwaká.

A Parceria

Este projeto é fruto de uma colaboração entre a Comunidade Wauja, o People’s Palace Projects e a Factum Foundation, iniciada em 2018. Em setembro daquele ano, uma expedição à gruta sagrada do Kamukuwaká, organizada por membros da comunidade Wauja, especialistas da Factum Foundation e uma equipe independente de antropólogos brasileiros, descobriu que seus antigos petróglifos haviam sido sistematicamente destruídos. Liderada pelos Wauja, uma rede internacional de organizações, acadêmicos e voluntários realizou uma meticulosa restauração digital dos gravados sagrados.

Desenhos da gruta feitos por indígenas, fotos antigas e a digitalização do local foram documentados por uma equipe de artistas e técnicos internacionais. No estúdio da Factum Foundation, em Madrid, essas informações foram transformadas em uma réplica tridimensional impressionante, de oito metros de comprimento, da gruta, preservando os desenhos sagrados para as futuras gerações. Você pode ler mais detalhes deste projeto aqui, e baixar a publicação (escrita em inglês e português) aqui.

A réplica em tamanho real foi enviada da Espanha para o Brasil e instalada no novo Centro Cultural e de Monitoramento, na aldeia Ulupuwene, no território indígena do Xingu, em outubro de 2024.

Uma nova experiencia em realidade virtual

“Acreditamos que, ao compartilhar a história do Kamukuwaká, podemos ajudar a convencer o homem branco a não destruir a si mesmo.”

— Piratá Waurá, Cineasta e Educador Wauja

Em agosto de 2024, Piratá Waurá recebeu apoio do Itaú RUMOS para desenvolver uma nova experiência de realidade virtual em parceria com o People’s Palace Projects e o Studio KWO. Kamukuwaká – O Chamado da Floresta explora questões urgentes de justiça climática e resiliência indígena na Amazônia, através do mito do Kamukuwaká, voltado para audiências não indígenas. A obra foi apresentada na COP30 – Conferência do Clima da ONU, no Pará.

A história do Kamukuwaká é um símbolo da resistência do Xingu, que atrairá atenção internacional para as ameaças existenciais enfrentadas pelas comunidades indígenas na região amazônica.