Kamukuwaká – Recriando a gruta sagrada Indígena
Réplica em 3D e em tamanho real recupera os desenhos milenares vandalizados na caverna sagrada para os povos do Xingu.

O projeto em linhas gerais
Para os 16 povos indígenas do Xingu que vivem na Amazônia legal brasileira, a antiga caverna de Kamukuwaká é o local histórico mais sagrado. É considerado por eles ‘o grande livro do conhecimento’. Há séculos, as gravuras nas paredes da caverna são a base da cosmologia, costumes e da história ancestral indígena e inspiram rituais tradicionais no Xingu, danças, canções, pinturas corporais e decoração de cerâmica.
O sítio arqueológico foi tombado como patrimônio cultural em 2010 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Brasil) e fica dentro de uma fazenda particular. Desde a década de 1960 os Wauja reinvindicam que a gruta sagrada e seu entorno, incluindo a nascente do rio Batovi sejam anexados ao território Indígena do Xingu.
Em 2018, durante uma expedição, o povo Wauja descobriu que os desenhos talhados nas paredes da caverna haviam sido destruídos. Os agricultores têm expandido as plantações de soja e as pastagens nas fronteiras da Terra Indígena demarcada, causando graves impactos culturais e climáticos. O vandalismo foi provavelmente um ataque cultural calculado para apagamento deliberado da memória Indígena.
Em resposta a esse ato criminoso, especialistas da Fundação Factum trabalharam com nossos parceiros Indígenas Wauja para recuperar os desenhos e construir uma réplica da gruta em tamanho real (8 metros de largura x 4 metros de altura).
Após receber um financiamento da Iron Mountain, o PPP iniciou os preparativos para enviar o fac-símile do estúdio da Factum em Madrid para o território Indígena. A réplica ficará alojada no Centro Cultural e de Monitoramento Territorial, construído na aldeia de Ulupuwene.
Um grande ritual de inauguração está planejado para início de outubro com parceiros Wauja, ONGs, autoridades e convidados especiais.
O cacique da aldeia Tetepeweke fala sobre a expectativa de receberem a gruta (legenda traduzida de Aruaki para ingles)
Destruição Criminosa e a recriação da gruta Kamukuwaká
Como parte do projeto The Challenge of the Xingu do PPP, uma expedição ao local em setembro de 2018 – organizada pela comunidade Wauja, com uma equipe da Fundação Factum e antropólogos brasileiros – descobriu que antigos petroglifos da gruta haviam sido sistematicamente destruídos: marcas de cinzel, uma superfície lascada e fragmentos espalhados pelo chão foram tudo o que restou.
Você pode ler mais sobre esta história na BBC News (em português).
A caverna e seu conhecimento teriam sido perdidos para sempre, se não fosse por um projeto inovador que restaurou as gravuras sagradas que deram vida à caverna Kamukuwaká em uma réplica em tamanho real.
A equipe da Factum Foundation empregou tecnologia de alta resolução (fotogrametria e digitalização LiDAR) para registrar a caverna. Em seguida, utilizando tecnologias de impressão 3D de última geração e com referência à documentação fotográfica anterior, bem como à memória coletiva dos Wauja, foi realizada uma restauração digital com precisão forense das gravuras, resultando em um fac-símile 1:1 da entrada até a caverna com todos os petroglifos, medindo 8x4x4m.

Um ano após a descoberta do vandalismo, nos dias 18 e 19 de outubro de 2019, a Factum organizou um evento de dois dias na sua oficina de Madrid para inaugurar a réplica da caverna restaurada. Um dos líderes do povo Wauja, Akari Waurá, historiador oral e cantor, e seu filho Yanamakakuma Waurá, ao lado de Takumã Kuikuro, cineasta do povo Kuikuro, e Shirley Djukuma Krenak, líder do povo Krenak, inauguraram a gruta com um ritual.
Durante o evento, eles explicaram a importância da caverna e seu significado para a preservação das culturas indígenas e discutiram formas pelas quais o fac-símile da caverna pode servir melhor às comunidades indígenas no Brasil.
Akari Waura, cacique da aldeia Tetepeweke
8.000 KM: A viagem da réplica da Espanha para a Terra Indígena do Xingu
No início de 2023, o projeto foi selecionado para receber um financiamento do programa Living Legacy Initiative da Iron Mountain. O apoio permitiu que a PPP, a comunidade Wauja e seus parceiros começassem a planejar a logística para levar a réplica de Madri até a aldeia Ulupuwene, na Terra Indígena do Xingu.
A Associação Indígena Ulupuwene decidiu abrigar a caverna em um novo Centro de Monitoramento e Cultura – o primeiro Museu Indígena do Xingu – no coração da aldeia. A construção foi iniciada no inverno de 2023, período de seca na região e concluida em março de 2024.
Em fevereiro de 2024, a réplica da gruta foi finalmente desmontada no estúdio da Factum Foundation na Espanha para caber em grandes containeres enviados de navio para o porto de Santos no Brasil.
O video abaixo dá a dimensão da logística:
O novo Centro de Monitoramento e Cultura no coração do Xingu
O centro cultural e educacional foi construído de acordo com princípios de arquitetura sustentável, utilizando bioconstrução. O prédio de 150 metros quadrados abrigará a réplica da caverna no coração da Terra Indígena. Será aberto a visitantes do território indígena e de longe.
O novo centro foi equipado com painéis solares, conexão de Internet, escritórios e espaços de armazenamento para permitir ao povo Wauja monitorar o território e o rio Batovi 24 horas por dia, 7 dias por semana, através de drones, câmaras e GPS.
Toda a aldeia se envolveu na construção do novo centro cultural onde a réplica será instalada pela equipe da Factum Foundation.
A inauguração da gruta está prevista para a primeira semana de Outubro de 2024 chegar ao território indígena após uma viagem de 8 mil quilômetros.
Um grande ritual Wauja irá marcar este marco histórico para parceiros, autoridades, ONGs e convidados especiais.