RV Kamukuwaká: Visitando a Gruta Sagrada

Dando ao povo indígena Wauja, do Xingu, a oportunidade de visitar seu local mais sagrado através da realidade virtual.

Intercâmbio Indígena e Ação Climática

Visão Geral do Projeto

O artista associado da People’s Palace Projects, Nathaniel Mann, em colaboração com a Associação Indígena Tulukai (AIT), desenvolveu uma interface inovadora de realidade virtual que recria a gruta sagrada do Kamukuwaká.

Essa tecnologia permite que as diferentes gerações dos povos indígenas revisitem a gruta, conhecida como o “livro de aprendizado” do povo Wauja – um sítio arqueológico que preserva suas crenças, costumes e história.

Em 2018, essa antiga gruta, considerada o local histórico e espiritual mais importante para os Wauja e outros 15 povos indígenas do território do Xingu, foi vandalizada por um agressor desconhecido. A destruição provavelmente decorre da tensão contínua entre comunidades indígenas e agricultores no estado de Mato Grosso, Brasil. (Veja a matéria da BBC News)

Aprendizado com Realidade Virtual

Graças à realidade virtual, cerca de 700 indígenas agora têm a oportunidade de aprender sobre o conhecimento ancestral gravado nos painéis de arte rupestre do Kamukuwaká sem sair de suas aldeias.

Para tornar isso possível em uma área tão remota, quatro aldeias indígenas foram equipadas com computadores e painéis solares, garantindo conexão à internet. A experiência foi documentada nas aldeias Wauja pelo professor e cineasta Piratá Waura, que planeja compartilhar essa tecnologia com os outros 15 povos indígenas do Xingu no futuro.

Do Xingu para Copenhague e Paris

A experiência de realidade virtual do Kamukuwaká e uma instalação de realidade mista foram selecionadas pelo simpósio CPH:Lab Inter como parte do festival de cinema CPH: DOX film, realizado em abril de 2022 na Dinamarca. Nove projetos imersivos, incluindo Kamukuwaká, exploraram o tema das “Transformações”.

O protótipo também foi exibido na sede da UNESCO, em Paris, em dezembro de 2022, durante o evento oficial de lançamento da Década Internacional das Línguas Indígenas. Líderes indígenas, investidores e diplomatas da ONU puderam experimentar uma prévia da RV Kamukuwaká.

A Parceria

Este projeto é fruto de uma colaboração de longa data entre a Comunidade Wauja, o People’s Palace Projects e a Factum Foundation, iniciada em 2018. Em setembro daquele ano, uma expedição à gruta sagrada do Kamukuwaká, organizada com membros da comunidade Wauja, especialistas da Factum Foundation e uma equipe independente de antropólogos brasileiros, descobriu que seus antigos petróglifos haviam sido sistematicamente destruídos. Liderados pelos Wauja, uma rede internacional de organizações, acadêmicos e voluntários realizou uma meticulosa restauração digital dos gravados sagrados.

Desenhos da gruta feito por indígenas, fotos antigas e a digitalização do local foram documentadas por uma equipe de artistas e tecnólogos internacionais. No estúdio da Factum Foundation, em Madrid, essas informações foram transformadas em uma réplica tridimensional impressionante, de oito metros de comprimento, da gruta, preservando os gravados sagrados para as futuras gerações. Você pode ler mais detalhes deste projeto aqui, e baixar a publicação (escrita em inglês e português) aqui.

A réplica em tamanho real será enviada da Espanha para o Brasil e instalada no novo Centro Cultural e de Monitoramento, na aldeia Ulupuwene, no território indígena do Xingu, no outono de 2024.

Próximos Passos

“Acreditamos que, ao compartilhar a história do Kamukuwaká, podemos ajudar a convencer o homem branco a não destruir a si mesmo.”

— Piratá Waurá, Cineasta e Educador Wauja

Em agosto de 2024, Piratá Waurá recebeu apoio do Itaú RUMOS para desenvolver uma nova experiência de realidade virtual em parceria com o People’s Palace Projects e o Studio KWO. O novo projeto de RV vai explorar questões urgentes de justiça climática e resiliência indígena na Amazônia, através do mito do Kamukuwaká, voltado para audiências não indígenas, com o lançamento previsto na COP30, no Pará. Essa experiência poderá ser apresentada em galerias, museus, escolas, universidades e conferências ao redor do mundo.

A história do Kamukuwaká é um símbolo da resistência do Xingu, que atrairá atenção internacional para as ameaças existenciais enfrentadas pelas comunidades indígenas na região amazônica.