Construindo Pontes
A pesquisa internacional investiga o impacto da violência armada à saúde mental e bem-estar de moradores do maior complexo de favelas do Rio de Janeiro.

Visão Geral do Projeto
Os 140 mil moradores da Maré enfrentam uma série de fatores de estresse: ausência do Estado e de políticas de bem-estar social, acesso limitado a serviços básicos e instituições culturais, exclusão socioeconômica, entre outros. Além disso, o território é amplamente controlado por facções do tráfico armado e milícias locais. Este projeto internacional de pesquisa, uma parceria entre a Redes da Maré e a People’s Palace Projects, teve como objetivo compreender melhor essas questões para informar e orientar respostas em toda a comunidade.

Metodologia
O projeto internacional de pesquisa Construindo Pontes investiga o impacto do conflito armado e da violência urbana na saúde mental e no bem-estar das 140 mil pessoas que vivem na Maré, um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro, que enfrenta múltiplos fatores de estresse e é, em sua grande maioria, controlado por facções armadas do tráfico e milícias locais.
A equipe de pesquisa entrevistou 1.400 moradores da Maré com mais de 18 anos, incluindo 200 usuários ativos de drogas que vivem nas ruas ou em situação de risco de desabrigo. Foram realizadas entrevistas presenciais em profundidade e grupos focais, além de um mapeamento de serviços de saúde, assistência social e atividades culturais reconhecidas pelos moradores como redes de apoio que poderiam contribuir para seu bem-estar.
Entre junho e outubro de 2020, a equipe de pesquisa também conduziu três subestudos — nas áreas de ciências sociais, saúde e cultura — para entender melhor o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde mental, no bem-estar, nas atividades culturais disponíveis e na renda dos moradores.
Além das ferramentas tradicionais de pesquisa das áreas da medicina e ciências sociais, o projeto utilizou as artes para produzir narrativas e imagens que refletissem e desafiassem o estigma e a exclusão social associados aos jovens das favelas e periferias.
O renomado antropólogo brasileiro Luiz Eduardo Soares também produziu um estudo separado sobre a narrativa criada pelos artistas integrantes da equipe de pesquisa, que trabalharam com teatro, música, poesia e fotografia.
Principais Resultados
O estudo revelou que o sofrimento mental é generalizado na região, com transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade, depressão e tentativas de suicídio aparecendo como distúrbios comuns. Abaixo, você pode ver a extensão dos resultados.
Rema Maré
Com base nos resultados do estudo, a campanha Rema Maré foi a primeira iniciativa de conscientização sobre saúde mental realizada no conjunto de favelas. A campanha foi centrada em uma Semana da Saúde Mental, realizada entre os dias 23 e 28 de agosto de 2021, e contou com diversas atividades culturais, debates e intervenções em várias comunidades da Maré, incluindo cinema ao ar livre para crianças, oficinas de arte e distribuição de cartilhas sobre os serviços de saúde mental disponíveis no território.
Resultados Artísticos
O estudo e a campanha trouxeram à vida muitos resultados criativos e inspiradores na Maré:
Espetáculo ao Vivo
Dirigido por Paul Heritage, Uma Imersão Poética em 10 Movimentos levou ao palco cinco poetas da Maré e de favelas vizinhas do Rio, junto com o músico Rafael Rocha. Um espetáculo potente sobre violência, racismo e saúde mental. As apresentações ocorreram durante a Semana da Saúde Mental e foram seguidas de debates com assistentes sociais e formuladores de políticas públicas locais.
Audio Drama/ podcast
Nos cinco primeiros meses da pandemia de Covid-19, seis poetas da Maré participaram de oficinas online de escrita criativa, lideradas pelo diretor artístico da People’s Palace Projects, professor Paul Heritage (Drama, QMUL) e pela diretora de teatro galesa Catherine Paskell (Dirty Protest).
Juntos, os jovens artistas produziram Becos, um audiodrama em quatro atos, disponível nas principais plataformas de podcast. A história trata de alegria, oportunidades, violência, racismo e injustiça — e da resiliência construída diariamente por comunidades pobres brasileiras. Com poesia e música, os seis jovens artistas de uma das maiores favelas do Rio de Janeiro nos conduzem pelos becos da Maré.
Música
O músico Rafael Rocha, que compôs a trilha sonora de Becos, também produziu um álbum inspirado no processo criativo do audiodrama, intitulado Satelite. Suas 11 faixas originais exploram sonoridades da favela e apresentam os poemas e o manifesto criados para o projeto.
Fotografia
Durante o lockdown, moradores da Maré foram convidados a registrar, em texto e imagem, o que viam de suas janelas. As fotos enviadas participaram de um concurso virtual e as finalistas foram selecionadas para a exposição digital A Maré de Casa, com curadoria da artista visual Tatiana Altberg e da pesquisadora Raquel Tamaio. No mesmo site, seis jovens fotógrafos também documentaram por quatro meses o cotidiano da favela com textos e fotografias.
Na Mídia
Mais de 300 matérias foram publicadas sobre o projeto em veículos da mídia brasileira e internacional, incluindo programas de TV aberta, rádio, jornais e portais de notícias.
