O curta, dirigido por Piratá Waurá e Heloisa Passos, que fez estreia mundial na Mostra Competitiva Nacional, leva o público a contemplar uma jornada espiritual e meditativa sobre a luta coletiva pela memória ancestral contida na gruta sagrada do Kamukuwaká.
Por Yula Rocha/ Fotos: Jaqueline Lisboa
Brasília, setembro de 2025 – O público e o júri do Festival de Brasília reconheceram a força da ancestralidade e a sabedoria do Xingu retratadas em Replika com dois candangos por Melhor Direção e Melhor Edição de Som.
O cineasta Piratá Waurá viajou a Brasília com dois realizadores indígenas que participaram das filmagens — Kunapo Waurá e Washamani Waurá—, e dedicou os prêmios ao seu povo, ao cacique Elewoká e à aldeia Ulupuwene, onde o filme foi rodado.
“Estou muito feliz de ver nosso filme selecionado. Quero agradecer ao júri e ao festival e às pessoas que votaram nesse filme, que acreditaram na luta dos povos indígenas e na causa indígena.”
A mensagem de áudio de Piratá foi reproduzida no palco pelo celular pela codiretora de Replika, cineasta Heloisa Passos. Piratá não pode participar da noite da premiação pois já estava a caminho de Nova York, onde participa da Nova York Climate Week com a delegação da COIAB.Para a dupla de diretores, exibir o filme no Cine Brasília, no último dia da mostra, foi uma experiência simbólica.
“É emocionante estar aqui. Esse cinema é histórico, um templo sagrado para quem ama cinema. Trazer o Xingu e a ancestralidade para essa tela é um presente”, celebrou Heloisa.
A People’s Palace Projects, Studio 1504 e Maquina Filmes assinam a produção do filme realizado em colaboração com um coletivo de comunicadores indígenas da Aldeia Ulupuwene (Alto Xingu), que participaram das filmagens durante oficinas práticas de capacitação em audiovisual, realizadas em outubro de 2024.
A obra nasce da luta do povo Wauja, do Alto Xingu, pela preservação e demarcação de seu principal patrimônio cultural: a gruta sagrada do Kamukuwaká, tombada pelo IPHAN e vandalizada em 2018. Considerada o “livro do conhecimento” para os povos do Alto do Xingu, a parede da gruta era talhada com inscrições ancestrais que há séculos transmitiam ensinamentos fundamentais para as novas gerações – os rituais, pinturas corporais, cantos e a cosmologia xinguana.
Em resposta a essa violência, Replika acompanha o ritual de inauguração da réplica em tamanho real da gruta, realizada em outubro de 2024, fruto de uma parceria de quase dez anos para recuperação do patrimônio e da memória coletiva do Xingu entre o povo Wauja, a People’s Palace Projects (Reino Unido), a Factum Foundation (Espanha) e lideranças indígenas locais.
Além da exibição do filme, os diretores e parte da equipe de Replika – Oswaldo Santana, Fernanda Ligabue, Andrea Lanzone, Kunapu e Washamani Waurá – participaram de um debate no sábado (20 de outubro) onde falaram sobre o processo e os desafios de construção coletiva de Replika, o poder do cinema como ferramenta de luta e o reconhecimento das tecnologias ancestrais.
“Para nós, a própria réplica já é uma tecnologia. É uma forma de dar continuidade à ancestralidade, para que esse conhecimento siga vivo”, afirmou Piratá.
Heloisa lembrou do vandalismo à gruta e destacou a potência da imagem como ferramenta de transformação.
“O cinema permite que pessoas que nunca tiveram acesso à aldeia possam vivenciar essa cultura. Não se trata de destruir para construir, mas de refletir para construir”, concluiu.
(leia reportagem completa publicada pelo Jornal de Brasilia)
Antes de chegar a Brasília, a aldeia Ulupuwuene assistiu a uma sessão especial de Replika que, nas palavras do cacique Elewoka, conseguiu traduzir ao não indígena o significado da gruta do Kamukuwaká para os povos do Xingu.
O curta-metragem segue agora para o Festival do Rio, onde será exibido na noite de gala para convidados (09/10) e no dia 10/10 (sexta-feira) às 13h30, no Cine Odeon com sessão aberta ao público, seguida de debate, e dia 11/10 (sábado) às 16h15, no Cinesystem Belas Artes 5.
Vendas pelo ingresso.com previstas a partir do dia 30/9.
Sinopse
No território do Alto Xingu, no Brasil, uma gruta sagrada é vandalizada, ameaçando a memória coletiva de uma comunidade.
Replika é uma reflexão sobre memória, identidade, perda e renascimento, ao acompanhar o ritual de inauguração de uma réplica em tamanho real da gruta, concebida e instalada na aldeia como forma de transmitir conhecimento para as novas gerações.
O filme nos convida a refletir sobre as verdades ancestrais do povo Wauja e sobre como a tecnologia e a sabedoria indígena podem se unir como ato de resistência. Dirigido por Piratá Waurá (território do Xingu) e Heloisa Passos, o curta é, ele próprio, uma meditação sobre luta coletiva através do ritual, apresentado inteiramente em língua indígena e realizado com o apoio de jovens comunicadores do Xingu.
Filme: Replika (15’)
- Lingua: Aruaki (com legendas em Portugues)
- Diretores: Piratá Waurá e Heloisa Passos
- Realização: Associação Indigena Ulupuwene, People’s Palace Projects, 1504 e Maquina Filmes
- Roteiro: Heloisa Passos, Oswaldo Santana e Piratá Waurá
- Produção: Heloisa Passos (Maquina Filmes), Mark Slagle (1504) e Yula Rocha (PPP)
- Produção executiva: Andrea Lanzoni e Mark Slagle
- Produção associada: Maria Carlota Bruno
- Direção de fotografia: Fernanda Ligabue, Heloisa Passos e Piratá Waurá Montagem: Oswaldo Santana
- Direção de produção: Andrea Lanzoni
- Som direto: Lucas Caminha
- Desenho de som: O Grivo
- Elenco: Akari Waurá, Elewoká Waurá, Kamo Waurá, Piratá Waurá, Peré Yalaki Waurá e Yaponuma