Por Marcele Oliveira, Diretora Executiva do PerifaLab
Agosto de 2024 – Há menos de 18 meses para a COP30 em Belém, a People’s Palace Projects do Brasil, em parceria com o Perifalab organizou um encontro de atores culturais e ativistas climáticos no último dia 7 de Junho na Casa Rio. Entre muitas questões, o debate central foi sobre como mobilizar o setor cultural para que a cultura seja reconhecida como pilar das políticas climáticas. Para isso, conhecemos uma uma coalizão internacional que defende a cultura como uma estratégia de adaptação que precisa ser reconhecida pelos documentos oficiais da UNFCCC.
Participaram dessa conversa gestores de espaços culturais, ativistas do clima, mobilizadores de pautas relacionadas à cidade, agitadores e articuladores de movimentos atentos. Em uma fala inicial, Thiago de Jesus, da PPP, apontou como os próximos meses são essenciais para garantir uma vitória política para o setor cultural, construindo um debate consistente entre os temas clima e cultura para formular novas metas conjuntas de ação no âmbito nacional e internacional.
Na sequência, eu, Marcele Oliveira do PerifaLab, mediei a conversa com o convidado Andrew Potts, advogado especializado em políticas culturais, que trouxe apontamentos sobre os esforços para colocar a arte, a cultura, o patrimônio e as indústrias criativas no centro das políticas climáticas da UNFCCC, a Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. Andrew esteve no encontro partilhando sobre sua experiência na mobilização cultural desde a COP21 de Paris até a COP28 de Dubai, incluindo a criação do ‘Grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura’, co-presidido pela Ministra Margareth Menezes, e os planos de ação para a COP29 em Baku e a COP30 em Belém. Ele nos apresentou a teoria de mudança da Climate Heritage Network, uma coalizão de trabalho contínuo no sentido das políticas culturais e climáticas.
A cultura nunca foi reconhecida em seu potencial nas decisões políticas da COP. Isso quer dizer que a maior frente de comunicação massiva que a gente possui enquanto sociedade não é considerada uma estratégia de conscientização e combate à desinformação climática. Faz sentido isso? Espalhadas experiências, que perpassam comunidades periféricas, originárias e protetoras de biomas em sua integridade, nos demonstram a eficiência da conscientização local, que é o que protege as culturas enquanto modo de vida e de sobrevivência.Por si só, esse fato já deveria ser suficiente, mas não é, já que essas comunidades estão em constante ameaça, perdendo suas terras e seu bem-viver para um desenvolvimento nada sustentável. O futuro que queremos precisa incluir leis e práticas sustentáveis no dia a dia, de forma rápida e eficaz, numa onda de conscientização na mobilização e no legislativo.
Da Amazônia a Mata Atlântica, a sociedade civil que articula a pauta climática através de encontros, fóruns, congressos e demais atividades – que são culturais! – percebem as dificuldades de integrar na prática a sustentabilidade, seja do próprio projeto, seja dos cuidados com o planeta. A era dos copos plásticos acabou. Mas a era dos copos reutilizáveis, ecobags e números exorbitantes de resíduos sólidos encaminhados para cooperativas sem nomes publicizados também já foi. O hoje precisa virar a consciência, de quem produz e de quem consome. A cultura precisa estar oficialmente dentro de uma estratégia para ações climáticas.
“Sustentável mesmo é envolver cooperativas de resíduos sólidos e visibilizá-las ao público, valorizar trabalhos feitos por comunidades que protegem o bioma onde aquele encontro se realiza, alocar o discurso de solidariedade ao discurso de emergência, cobrança e mobilização em torno de um apoio governamental para adaptar os editais culturais considerando medidas alternativas para ondas de calor ou de chuvas excessivas.“
Marcele Oliveira, em ensaio publicado na Escola de Ativismo.
No ano passado, pela primeira vez, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) contou com um pavilhão dedicado exclusivamente para as áreas de Entretenimento e Cultura, o Entertainment + Culture Pavillion. Esse pavilhão, construído pela sociedade civil global, se encaminha para a COP29 e possivelmente virá para a COP30. Sendo assim, queremos que ele tenha a cara do Brasil, da América Latina e do Sul Global!
Para isso, nos próximos passos, estamos de olho no texto que vai ser trabalho pelo Grupo de Trabalho de Cultura do G20 – o encontro das vinte maiores economias do mundo e convidados, que acontece nesse 2024 no Brasil – e nos eventos paralelos que transversalizam cultura e clima para atentar ao risco de atrelar a pauta ao desenvolvimento sustentável que desmata, degrada e destrói patrimônios materiais, imateriais, naturais e construídos e cultivados pelo ser humano. Ter ministros e trabalhadores da cultura de tantos países é essencial para a discussão.
Reunimos a expectativa de ver cada vez mais atores da cultura se encontreando com atores da pauta climática, para seguirmos pensando a cultura e o clima em foco. Em novembro está marcado o 4º encontro desse GT de Cultura em Salvador e temos muita água para rolar até lá, com uma rede engajada no compartilhamento de informações realacionadas a possíveis incidiências no G20 rumo à COP30. Bora nessa?
Vem! Vai ser legal! Rumo a COP30!
Por Marcele Oliveira, Diretora da PerifaLab- Siga a Marcele no Instagram