Raizes de Resiliência

O impacto da mineração sobre a cultura local do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais

Valor Cultural e Patrimônio
Crédito: Casa Quilombe

Background

O Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais é uma das mais regiões mais ricas em cultura, meio ambiente e história do Brasil e berço de dois Patrimônios Culturais reconhecidos pela UNESCO. A região abriga também a maior reserva de ferro do país.

No entanto as comunidades locais, a natureza e a rica herança cultural estão ameaçadas por riscos catastróficos de desastres ambientais naturais e humanos associados à atividade mineradora. O fechamento de duas reservas, por conta do rompimento de barreiras, causou não apenas uma extensa contaminação ambiental, mas também resultou na perda de milhares de empregos, afetando direta e indiretamente quase um milhão de pessoas.

O Projeto

Apesar da importância cultural da região, não havia até o momento pesquisa dedicada a mensurar o impacto desses recentes desastres sobre o patrimônio cultural da região e sobre a vida das comunidades locais diretamente afetadas.

Ao avaliar o valor desses patrimônios históricos e as referencias culturais presentes no Quadrilátero Ferrífero, nosso projeto Raizes de Resiliência levanta a necessidade de se entender melhor a região, com a preocupação de mitigar os riscos ambientais e prevenir futuros desastres.

Além disso, o projeto explorou a capacidade de resiliência das comunidades locais com foco no potencial criativo de artistas locais e suas práticas tradicionais de fazer arte. Outro objetivo do projeto foi o de elucidar o papel do patrimonio cultural nas agendas política e educativa e influenciar políticas públicas na região.

Metodologia

O time do Raizes de Resiliência comandou um projeto-piloto de pesquisa colaborativa com as comunidades, em parceria com o Instituto Inhotim, o maior museu de arte contemporanea a céu aberto na América Latina, servindo como hub cultural.

Cinco organizações artísticas locais, incluindo uma comunidade Quilombola, participaram de workshops imersivos. O treinamento permitiu que esses gestores e artistas co-criassem inventórios de suas práticas culturais. Esses dados, histórias e conhecimento da cultura local agora estão disponíveis a professores, autoridades locais e influenciadores de políticas públicas. A idéia é que esse material ajude a estabelecer qual o papel que o patrimônio cultural deve ter como parte do processo transformativo, de resiliência e regeneração.

Performances de artistas locais exploraram o valor que a cultura tem para essas comunidades.

Juntos, ouvimos mais de 500 participantes de atividades culturais entre Julho e Agosto de 2021.

Leia o relatório preliminar RoR – Short report

Conheça os Participantes

Casa Quilombê Brumadinho, Minas Gerais

Corporação Musical Banda São Sebastião Brumadinho, Minas Gerais

Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) Itabira, Minas Gerais

Grupo Atrás do Pano Nova Lima, Minas Gerais

Associação Cultural Clube Osquindô Mariana, Minas Gerais

Programa Jovens Embaixadores

No fim da primeira fase do projeto, as organizações de Minas envolvidas indicaram cinco embaixadores. Através de um programa de mentoria e atividades criativas, esses novos agentes entre 15 e 27 anos,  hoje advogam a favor dos patrimonios culturais para se reduzir o risco de desastres e ameaças ambientais em suas cidades. Eles foram treinados para promover práticas sustentáveis e preservar a cultura regional.

 

Programa Educativo

Com base nos achados da pesquisa, ferramentas educativas foram criadas e disponibilizadas para escolas da região. Crianças e jovens agora podem entender o papel e o valor do patrimônio cultural, as tradições de Minas Gerais e engajar em ações climáticas.

Vale? Cinco artistas diante do maior crime ambiental do Brasil

Como resultado do projeto de pesquisa, e no marco de quatro anos dessa tragédia que matou 300 pessoas em Minas Gerais, a People ‘s Palace Projects/ Queen Mary University of London lançou o documentário Vale? (30’) em 2023. Este é o primeiro filme no Brasil sobre o rompimento da barragem de Brumadinho a direcionar o olhar ao impacto dessa tragédia à arte e cultura da região. Cinco artistas de Minas Gerais compartilham suas vivências, dores, preocupações e esperança com música, sons, rap e performances de circo.

O filme, com direção de Marcelo Barbosa (Indianara) e Paul Heritage, teve lançamento na região afetada com exibições de graça em Belo Horizonte, Ouro Preto, Brumadinho e na sequencia em cinemas do Rio de Janeiro, São Paulo e Londres. As sessões contaram ainda com debates sobre esse crime com os diretores e artistas do documentário e participação da platéia.

Em Vale?, cinco artistas de Minas – Jô Alves (palhaça Jojo, Passagem de Mariana), ator e diretor de teatro Lucas Fabrício (Nova Lima), Rei Batuque (Quilombo de Marinhos, Brumadinho), músico Vitor Elias (Banda São Sebastião, Brumadinho) e o rapper e poeta Thiago SKP (Centro Cultural Carlos Drummond de Andrade, Itabira) – falam sobre o reflexo da mineração e dos acidentes decorrentes dessa atividade no trabalho deles como artistas. Mas para eles,  a arte e a cultura, embora abaladas pelos crimes ambientais,  têm sido usadas como ferramentas de resiliência e fortalecimento dos laços sociais para as comunidades afetadas na região.

A centenária Banda São Sebastião de Brumadinho foi a primeira a oferecer conforto aos parentes das vítimas da tragédia, com música.  

‘Naquele momento a gente sentiu que a comunidade precisava de acalento e a nossa arte foi uma forma de manifestar nossos afetos.'

Vítor Elias, Banda São Sebastião

‘Quanto vale a vida? Quanto vale? Quanto vale? A dor de quem chora, quanto vale? Gerar emprego, por comida na mesa, não fazem por você mas pelo lucro da empresa. Thiago SKP

A mineração citada em muitos versos de Drummond também permeia a arte do rapper e educador de Itabira, Thiago SKP, autor da música-tema do documentário.

‘Essa música e o filme nos instigam a ter coragem de questionar para que haja alguma mudança’

Thiago SKP, artista e autor do trilha sonora

Sinopse

Com música, poesia e performance circense, cinco artistas mineiros falam de suas dores, medos e esperanças quatro anos após o colapso da barragem de Brumadinho que matou quase 300 pessoas. Diante da destruição ambiental, o documentário, com direção de Marcelo Barbosa e Paul Heritage, volta o olhar para a arte e o patrimônio cultural de Minas Gerais e pergunta- quanto Vale?